O que (não) fazer no Dia do Índio
Na data em homenagem aos primeiros habitantes do Brasil, uma série de estereótipos e preconceitos costuma invadir a sala de aula. Saiba como evitá-los e confira algumas propostas de especialistas de quais conteúdos trabalhar.
Ricardo Ampudia (novaescola@atleitor.com.br)
O
Dia do Índio é comemorado em 19 de abril no Brasil para lembrar a data
histórica de 1940, quando se deu o Primeiro Congresso Indigenista
Interamericano. O evento quase fracassou nos dias de abertura, mas teve
sucesso no dia 19, assim que as lideranças indígenas deixaram a
desconfiança e o medo de lado e apareceram para discutir seus direitos,
em um encontro marcante.
Por ocasião da data, é comum
encontrar nas escolas comemorações com fantasias, crianças pintadas,
música e atividades culturais. No entanto, especialistas questionam a
maneira como algumas dessas práticas são conduzidas e afirmam que, além
de reproduzir antigos preconceitos e estereótipos, não geram
aprendizagem alguma. "O índigena trabalhado em sala de aula hoje é,
muitas vezes, aquele indígena de 1500 e parece que ele só se mantém
índio se permanecer daquele modo. É preciso mostrar que o índio é
contemporâneo e tem os mesmos direitos que muitos de nós, 'brancos'",
diz a coordenadora de Educação Indígena no Acre, Maria do Socorro de
Oliveira.
Saiba o que fazer e o que não fazer no Dia do Índio:
1.
Não use o Dia do Índio para mitificar a figura do indígena, com
atividades que incluam vestir as crianças com cocares ou pintá-las.
Faça
uma discussão sobre a cultura indígena usando fotos, vídeos, música e a
vasta literatura de contos indígenas. "Ser índio não é estar nu ou
pintado, não é algo que se veste. A cultura indígena faz parte da
essência da pessoa. Não se deixa de ser índio por viver na sociedade
contemporânea", explica a antropóloga Majoí Gongora, do Instituto
Socioambiental.
2. Não reproduza preconceitos em sala
de aula, mostrando o indígena como um ser à parte da sociedade
ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens
Mostre aos alunos que os povos indígenas não vivem mais como em 1500.
Hoje, muitos têm acesso à tecnologia, à universidade e a tudo o que a
cidade proporciona. Nem por isso deixam de ser indígenas e de preservar a
cultura e os costumes.
3. Não represente o índio com uma gravura de livro, ou um tupinambá do século 14
Sempre recorra a exemplos reais e explique qual é a etnia, a língua
falada, o local e os costumes. Explique que o Brasil tem cerca de 230
povos indígenas, que falam cerca de 180 línguas. Cada etnia tem sua
identidade, rituais, modo de vestir e de se organizar. Não se prenda a
uma etnia. Fale, por exemplo, dos Ashinkas, que têm ligação com o
império Inca; dos povos não-contatados e dos Pankararu, que vivem na
Zona Sul de São Paulo.
4. Não faça do 19 de abril o único dia do índio na escola
A Lei 11.645/08 inclui a cultura indígena no currículo escolar
brasileiro. Por que não incluir no planejamento de História, de Língua
Portuguesa e de Geografia discussões e atividades sobre a cultura
indígena, ao longo do ano todo? Procure material de referência e elabore
aulas que proponham uma discussão sobre cultura indígena ou sobre
elementos que a emprestou à nossa vida, seja na língua, na alimentação,
na arte ou na medicina.
5. Não tente reproduzir as casas e aldeias de maneira simplificada, com maquetes de ocas
"Oca" é uma palavra tupi, que não se aplica a outros povos. O formato
de cada habitação varia de acordo com a etnia e diz respeito ao seu modo
de organização social. Prefira mostrar fotos ou vídeos.
6. Não utilize a figura do índio só para discussões sobre como o homem branco influencia suas vidas
Debata sobre o que podemos aprender com esses povos. Em relação à
sustentabilidade, por exemplo, como poderíamos aprender a nos sentir
parte da terra e a cuidar melhor dela, tal como fazem e valorizam as
sociedades indígenas?
Quer saber mais?
Consultoria:
Maria do Socorro de Oliveira, coordenadora de Educação Escolar Indígena d a Sec. De Educação do estado do Acre
Majoí Gongora, Antropóloga do programa de Povos Indígenas do Brasil do Instituto Socioambiental
O site do Instituto Socioambiental mantém o projeto Povos Indígenas no Brasil que traz uma descrição de várias etnias com uma versão para crianças, com jogos e animações e também uma Sala do Professor
A temática indígena na escola, de Aracy Lopes da Silva, no Domínio Público.
Maria do Socorro de Oliveira, coordenadora de Educação Escolar Indígena d a Sec. De Educação do estado do Acre
Majoí Gongora, Antropóloga do programa de Povos Indígenas do Brasil do Instituto Socioambiental
O site do Instituto Socioambiental mantém o projeto Povos Indígenas no Brasil que traz uma descrição de várias etnias com uma versão para crianças, com jogos e animações e também uma Sala do Professor
A temática indígena na escola, de Aracy Lopes da Silva, no Domínio Público.
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/nao-fazer-dia-indio-cultura-indigena-624334.shtml
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