quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Educação Infantil, Ensino Fundamental e o Educador

Ensino Fundamental

Historicamente, no Brasil, a Educação Infantil tem sido encarada de diversas formas: como função de assistência social, como função sanitária ou higiênica e, mais recentemente, como função pedagógica, por entender a importância da primeira infância.
O atendimento às crianças de zero a cinco anos é reconhecido na Constituição Federal de 1988, passando a ser, um dever do Estado e um direito da criança (artigo 208, inciso IV). O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, destaca também o direito da criança a este atendimento. Reafirmando essas mudanças, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9.394/96 estabelece o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a cinco anos e a educação. A educação infantil é considerada a primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade (quando esta lei foi criada ainda não existia o ensino fundamental de nove anos), então, aparecem os PCNs para nortearem a educação infantil de 0 à 6 anos.
A função dos PCNs é contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais.
Os PCNs da Educação Infantil foram escritos como referenciais e orientações pedagógicas para os profissionais docentes da educação infantil. Os professores podem utilizá-los para consultas, anotações, elaboração de projetos e discussões entre seus colegas e os familiares das crianças que atende. E como referencial, é uma proposta aberta, flexível e não obrigatória, que pode subsidiar os sistemas educacionais, favorecendo o diálogo, só tendo sentido se traduzir a vontade dos sujeitos envolvidos com a educação das crianças.
A criação destes referenciais visa garantir que as práticas implementadas pelas instituições proporcionem o desenvolvimento integral das crianças de até seis anos, em complementação à ação da família e da comunidade. Para garantir uma educação de qualidade, é imprescindível que as crianças tenham acesso a instituições com espaços coletivos adequados, profissionais formados e habilitados, material pedagógico e brinquedos de acordo com as faixas etárias.
A educação infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade e será oferecida em: creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; pré-escolas, para crianças de quatro a seis anos de idade.
Considerando-se as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças de zero a seis anos, a qualidade das experiências oferecidas que podem contribuir para o exercício da cidadania devem estar embasadas no respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas em todas as suas diferenças, identificando no simples ato de brincar, uma forma de expressão, pensamento e comunicação, bem como seu acesso aos bens socioculturais disponíveis ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, pensamento, interação social, ética, estética, comunicação, socialização, atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade, pois ela tem direito, antes de tudo, de viver experiências prazerosas nas instituições.
O que faz uma criança em uma Escola de Educação Infantil? Brinca. Certamente brinca. Começa a fazer amigos, passa horas felizes convivendo com crianças e adultos que não são seus familiares, porém não é apenas isso o que acontece.
Até os 6 anos, a criança viverá uma das mais complexas fases do desenvolvimento humano, nos aspectos intelectual, emocional, social e motor, que será tanto mais rica quanto mais qualificadas forem as condições oferecidas pelo ambiente e pelos adultos que a cercam.
Uma escola precisa ser mais do que um lugar agradável, onde se brinca. Deve ser um espaço estimulante, educativo, seguro, afetivo, com professores realmente preparados para acompanhar a criança nesse processo intenso e cotidiano de descobertas e de crescimento. Precisa propiciar a possibilidade de uma base sólida que influenciará todo o desenvolvimento futuro dessa criança, sem abrir mão de ser um espaço para o livre brincar, de ser um ambiente extremamente afetivo, com um cotidiano rico e diversificado de situações de aprendizagem planejadas para desenvolver as linguagens, as emoções e estabelecer os pilares para o pensamento autônomo.
Toda escola de Educação Infantil precisa desenvolver na criança sua capacidade de aprender a aprender, de pensar, conviver num ambiente democrático, fazendo-a sentir-se segura e acolhida no ambiente escolar, utilizando este novo espaço para ampliar suas relações sociais e afetivas, socializar-se, a fim de construir sua autonomia, respeitar a diversidade, interagir com o meio de maneira independente, alerta e curiosa. Isto é, estabelecendo relações e questionamentos de acordo com os conhecimentos prévios de que dispõe, suas idéias originais e as novas informações que recebe e assim, apropriar-se dos mais diferentes tipos de linguagem, de acordo com as suas necessidades, utilizando-as para expressar o seu pensamento, suas emoções, podendo assim, compreender e comunicar-se com os outros
A organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil deve ser orientada pelo princípio básico de procurar proporcionar, à criança, o desenvolvimento da autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociadas com outras pessoas, sejam eles adultos ou crianças. Obviamente, esta construção não se esgota no período dos 0 aos 6 anos de idade, devido às próprias características do desenvolvimento infantil. Mas tal construção necessita ser iniciada nesta etapa da vida das crianças.
Bem como o ensino fundamental que é o período escolar obrigatório e indispensável para o desenvolvimento das crianças e jovens, já que é nessa fase que elas adquirem o domínio da escrita, da leitura, e do cálculo, conhecimento indispensável para a vida em nossa sociedade. O ensino fundamental era divido em duas etapas: da 1ª à 4ª série (antigamente chamada de primário), indicado para crianças de 7 a 10 anos; e da 5ª à 8ª (também chamada de ginásio), indicado para jovens de 11 a 14 anos.
O ensino fundamental, regulamentado por meio da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em 1996, sua origem remonta ao Ensino de Primeiro Grau, que promoveu a fusão dos antigos curso primário (com quatro a cinco anos de duração), e do curso ginasial, com quatro anos de duração, este último considerado, até 1971, ensino secundário, é uma das etapas da educação básica com de nove anos, sendo a matrícula, além de ser obrigatória para todas as crianças com idade entre seis e 14 anos, também é de responsabilidade dos pais ou responsáveis, do Estado pela garantia de vagas nas escolas públicas e da sociedade, por fazer valer a própria obrigatoriedade. A duração obrigatória do Ensino Fundamental foi ampliada de oito para nove anos pelo Projeto de Lei nº 3.675/04, passando a abranger a Classe de Alfabetização (fase anterior à 1ª série, com matrícula obrigatória aos seis anos) que, até então, não fazia parte do ciclo obrigatório (a alfabetização na rede pública e em parte da rede particular era realizada normalmente na 1ª série). Lei posterior (11.114/05) ainda deu prazo até 2010 para estados e municípios se adaptarem.
Cabe aos pais ou responsáveis pelo aluno em idade escolar a tarefa de matriculá-los e fazer com que eles freqüentem regularmente as aulas (e caso não façam isso, podem ser procurados pelo conselho tutelar e terão que responder por negligência). Por outro lado, é responsabilidade do Estado assegurar não apenas vagas em número suficiente para todos os alunos, mas também garantir o acesso a material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde das crianças e jovens em idade escolar.
Para aqueles que não começaram ou terminaram o ensino fundamental na idade própria, é indicada a Educação de Jovens e Adultos (EJA), cursos supletivos nos quais a idade mínima para o ingresso é de 15 anos.
A Lei 11.114 de 16 de maio de 2005 estabeleceu como obrigação dos pais ou responsáveis a matrícula das crianças a partir dos seis anos de idade no Ensino Fundamental, aprovando a antecipação da escolaridade obrigatória no Brasil, que passa de 8 para 9 anos, o que acompanha tendência mundial já concretizada em grande parte dos países da Europa e da América do Sul, como Argentina e Chile. A inclusão de crianças de seis anos de idade já estava prevista na Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) -, e é uma das metas da educação fundamental no Plano Nacional de Educação (PNE).
Na prática, isso significa que Estados e municípios brasileiros serão obrigados a oferecer educação a todas as crianças a partir dos seis anos de idade. A lei de 2005 também esclarece que o prazo estabelecido para a adaptação a essa nova regra vai até 2010.
Por que o Ensino Fundamental a partir dos 6 anos?
O objetivo é assegurar a todas as crianças tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprendizado e, com isso, formação mais ampla. No entanto, não se trata de transferir para as crianças de seis anos os conteúdos e atividades da tradicional primeira série, mas de conceber uma nova estrutura de organização dos conteúdos num Ensino Fundamental de nove anos, considerando o perfil dos alunos. Isso significa que os processos educativos precisam ser adequados à faixa etária das crianças ingressantes para que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental aconteça sem rupturas traumáticas para elas.
Como ficam os nove anos de trabalho no Ensino Fundamental? Como é a nomenclatura?
A nomenclatura que será dada ao primeiro ano do Ensino Fundamental, a partir de agora, não é o mais importante. Visando à uniformidade entre as múltiplas possibilidades de organização desse nível de ensino (séries, ciclos, outros).
As crianças de seis anos têm condições cognitivas necessárias a este aprendizado?
Existe o temor que a nova lei seja encarada como uma antecipação das práticas escolares típicas destinadas às crianças de sete para as de seis anos. Na verdade, pretende-se que a ampliação do Ensino Fundamental permita que haja mais tempo para esse aprendizado, considerando as diferenças culturais, sociais e psicológicas das crianças.
O ideal é que se leve de dois a três anos para alfabetizá-las, num trabalho mais interessante, menos neurótico, com cada criança no seu ritmo. Não precisam ser todos alfabetizados ao mesmo tempo, mas todos terão a oportunidade de começar o processo mais cedo, que hoje é dada só para alguns.
O fato de as crianças serem alfabetizadas formalmente a partir dos seis anos não constitui uma novidade no meio educacional brasileiro. Sabemos que um grande número de crianças que têm experiências relacionadas à alfabetização na instituição de Educação Infantil, ou mesmo em casa, demonstra tais condições. A idade cronológica não é, essencialmente, o aspecto definidor da maneira de ser da criança e de sua entrada no Ensino Fundamental. É muito importante que o professor trabalhe com as várias formas de expressão da criança, e que trabalhe com o desenvolvimento emocional, social e cognitivo dela. O processo de alfabetização não pode ser o único conteúdo.
Como a escola se integra nesse processo?
A mudança envolve todas as escolas brasileiras, tanto públicas quanto particulares, e poderá ser tratada, principalmente durante o processo de implantação, de maneira diferente pelas várias instituições (em razão do período de transição e cuja regulamentação é feita pelos Conselhos de Educação de cada Estado brasileiro). Entretanto, para as escolas que já têm a Educação Infantil e o Ensino Fundamental implantados, isso não significa fazer apenas uma modificação de nomenclatura, mas de organizar uma proposta de ensino própria para as crianças dessa idade e respectiva série.
Que material é utilizado para essa nova série? Qual o conteúdo pedagógico desse primeiro ano?
O parecer 18/05 alerta para que não se perca a identidade pedagógica dessa etapa educacional - último ano da Educação Infantil (legislação anterior) ou ano inicial do Ensino Fundamental (nova legislação). Isso significa a universalização da educação para crianças a partir de 6 anos no âmbito do Ensino Fundamental. Havendo mais tempo para ensinar, a escola terá mais condições de planejar seu trabalho, propiciando experiências pedagógicas e culturais mais significativas, pois esta série constitui um conjunto de atividades organizadas para alfabetizar letrando, isto é, introduz o aluno num processo gradativo em que ele não só irá codificar ou decodificar, mas aprenderá a usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária.
Assim sendo, o educador precisa ter em mente seus objetivos, a fim de avaliar as atividades que ele planeja e as suas próprias atitudes, observando se elas atendem o desenvolvimento dessas crianças de acordo com suas faixas etárias. Deve atuar de maneira extremamente próxima às crianças, lembrando que na educação infantil, o simples brincar é educar, educar é cuidar e que avaliar o desenvolvimento do grupo onde atua e de cada criança, em particular, precisa ser feito, porém, jamais compará-las umas às outras, compreendendo que cada uma delas carrega histórias de vida e ritmos de desenvolvimento próprios, por exercer a mais refinada profissão. Um profissional na arte de melhorar o ser humano, um missionário no desenvolvimento da consciência que deve ser verdadeiramente estar comprometido com as pessoas, não somente com o conhecimento, mas acima de tudo com o bom uso desses conhecimentos.
Existe uma diferença entre ser professor e ser educador. O professor é um profissional comprometido apenas com o conhecimento e conteúdo. O educador é um profissional comprometido com o conhecimento a fim de evoluir a consciência do ser humano na sua complexidade.
Uma sociedade é formada por indivíduos muitas vezes, cheios de culturas, muitos conhecimentos, muitos argumentos e sem nenhuma consciência. Esta pessoa teve no seu convívio escolar um professor e não um educador. Ela aprendeu os conhecimentos de forma superficial e faz o mesmo uso na sua vida. No momento atual, as escolas estão carentes de educadores, carentes de consciência e carentes de valorização. Ser professor significa distanciar-se da sua real função na educação, e ligar-se no mundo do saber muito e comprometer-se com pouco. Este pensamento leva o professor a separar-se de sua missão e ver que o resultado do seu trabalho não é sua responsabilidade. Sua mente é parada, pensa que sabe tudo e não precisa aprender mais.
O educador sabe que seu o maior desafio é aprender sempre com seus educandos, pois, eles são gerações mais atualizadas do que a sua. Na visão dele, estas crianças são evoluções dos seres humanos. O educador sabe que somente com bom uso do conhecimento pode chegar a desenvolver nestes estudantes grandes consciências. O maior aliado do educador é o tempo. Sabe que grandes construções levam muito tempo e por isso a importância da confiança depositada nesta missão. Vendo a educação de hoje, percebe-se a necessidade urgente de educadores. Ser educador é ir além, é resgatar consciência, começando primeiramente com a sua própria. Aqui está o primeiro grande desafio da profissão, e muitos fazem a opção de serem apenas professores.
Estas palavras têm o intuito de chamar a consciência dos professores, para olharem a sua profissão, e ver a fundamental importância que ela exerce numa nação. Ver que sua profissão forma grandes sociedades. E ao contrário disso, também contribuiu para a deformação de muitas. A função do professor consciente é de resgatar e perceber sua importância na sociedade que está inserido. Ele precisa se perceber e transformar esta profissão em educadores de consciência. Desta forma estará exercendo o verdadeiro papel na prevenção social tão desejada, contra futuros profissionais inconscientes de suas funções. Educar as crianças é o mesmo que prevenir grandes desordens do futuro. Não há outro caminho a ser seguido.
Ainda, ser educador é trabalhar o desconhecido que mora dentro de cada criança, de modo que se torne claro aos seus olhos, para que assim se possa crescer. E ver a sua maravilhosa contribuição numa sociedade consciente e melhor. “Professor esta na hora de perceber dentro de si o que é ser verdadeiramente educador”. Valorize sua profissão e reconheça a sua função, que o reconhecimento que tanto se espera de outros comece primeiro com você. Reconheça os grandes educadores que contribuíram para que você hoje pudesse assumir esta profissão. E principalmente reconheça em você, o grande profissional que você se tornou. Trabalhe consciente que o reconhecimento tanto pessoal quanto profissional será uma realidade.




Fonte:
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A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA ALFABETIZAÇÃO


"O melhor método de ensino é aquele que o professoroportuniza o fluir do saber empírico e instiga a dádiva da criação e recriação de seus educandos".
Roberto Giancaterino*

RESUMO
A criança ao se relacionar com o meio ambiente sente vontades, sentimentos e necessidades que são somadas à medida que o adulto lhe proporciona condições de explorar tudo o que a cerca, agindo de acordo com seu interesse. Essa conquista de espaço por parte da criança lhe dará suporte para um melhor conhecimento de seu corpo, de suas habilidades de movimento. Toda essa estimulação além de possibilitar uma adaptação motora favorece também o trabalho de um real desenvolvimento psicomotor. Dada a importância da ação psicomotora sobre a organização da personalidade da criança, é indispensável ao trabalho educativo que venha promover um melhor desenvolvimento de suas potencialidades, levando-se em conta os objetivos propostos e as atividades relativas à idade que melhor convir com suas características. O presente ensaio apresenta uma breve abordagem sobre a psicomotricidade e educação psicomotora como aliada do processo de alfabetização.
Palavras-chave: Educação,Psicomotricidade, Alfabetização, Criança.
O movimento é o meio pelo qual o indivíduo comunica-se e transforma o mundo que o rodeia. É nesta linha de expressão onde o corpo fala, que trataremos da psicomotricidade no presente trabalho. O corpo, a mente, o outro, o eu, a ação, o pensamento, a percepção, o real, o imaginário, a expressão, o afeto, estão estritamente ligados na criança desde a primeira idade e com o passar do tempo irão diferenciando-se e cada qual tomando sua função no desenvolvimento do indivíduo.
Lembrando das palavras de Wallon (1995) em que o movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, e sim, um significado de relação afetiva com o mundo, assim, para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas.
Considerando a complexidade do ser humano, considera-se relevante conhecer caminhos que o educador possa explorar habilidades motoras, não deixando de lado a conquista da individualidade de cada criança no que diz respeito ao conhecimento de seu Eu. É neste sentido da aprendizagem construtiva, significativa e global, que a psicomotricidade trabalha fazendo da transmissão de conhecimento com um leque de "descobertas", pois se é a prática que nos ensina, vamos fazê-la voltada para uma realidade de mutações constantes.
A psicomotricidade deixou de ser estudada isoladamente: hoje, se encontra enriquecida com os estudos da via institivo-emocional, com os da linguagem, com os da imagem do corpo, com os aspectos perceptivo-gnósicos e práxicos e toda uma rede interdisciplinar que veio dar ao estudo do movimento humano uma dimensão mais científica e menos mecanicista.
Vale salientar que, hoje, vemos que o movimento é uma significação expressiva e intencional, é uma manifestação vital da pessoal humana, pois é pelo movimento que o envolvimento atinge o pensamento. É esta intenção que dá ao movimento um conteúdo de consciência. A psicomotricidade na fase de alfabetização aqui estudada traz no seu bojo o domínio da dependência entre pensamento e ação produzindo desenvolvimento, e ainda, suas contribuições na educação.
De Meur & Staes (1984) assinalam que: o intelecto se constrói a partir da atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que essas habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras.
Oliveira (1997) postula que é pela motricidade e pela visão que a criança descobreo mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela redescobre o mundo; porém, estadescoberta a partir dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver adquirindo a noção de distância entre elae o objeto que ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de sua simplesatividade corporal indiferenciada.
Molinari e Sens (2002) afirmam que: a educação psicomotora nas séries iniciais do ensino fundamental atua como prevenção. Com ela podem ser evitados vários problemas como a má concentração, confusão no reconhecimento de palavras, confusão com letras e sílabas e outras dificuldades relacionadas à alfabetização. Uma criança cujo esquema corporal é mal formado não coordena bem os movimentos. Suas habilidades manuais tornam-se limitadas, a leitura perde a harmonia, o gesto vem após a palavra e o ritmo de leitura não é mantido, ou então, é paralisado no meio de uma palavra.
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona o processo de alfabetização; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habitualmente a coordenação de seus gestos e movimentos.
Para Fonseca (1996:142) a primeira necessidade seria, portanto:
(...) alfabetizar a linguagem do corpo e só então caminhar para as aprendizagens triviais que mais não são que investimentos perceptivo-motor ligados por coordenadas espaços-temporais e correlacionados por melodias rítmicas de integração e resposta.
É através do movimento que a criança integra os dados sensitivo-sensoriais que lhe permite adquirir a noção do seu corpo e a determinação de sua lateralidade. O desenvolvimento psicomotor da criança gira em torno de componentes fundamentais ao seu desenvolvimento como: esquema corporal, equilíbrio, coordenação, estruturação especial, temporal e lateralidade.
O esquema corporal diz respeito à consciência do próprio corpo, incorporando suas partes posturais e de atitudes tanto em repouso como em movimento. É preciso que a criança conheça e compreenda seu corpo para controlar melhores seus movimentos. Nessa conscientização de seu próprio corpo em diferentes posições, o domínio corporal é o primeiro elemento do comportamento, é através do movimento dinâmico que se consegue o controle do corpo e a percepção especial.
Fonseca (1996) destaca o caráter preventivo da psicomotricidade, afirmando ser a exploração do corpo, em termos de seus potenciais uma "propedêutica das aprendizagens escolares", especialmente, a alfabetização. Para o autor as atividades desenvolvidas na escola como a escrita, a leitura, o ditado, a redação, a cópia, o cálculo, o grafismo, e enfim, os movimentos estão ligados à evolução das possibilidades motoras e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente relacionadas aos aspectos psicomotores. Todavia, a Psicomotricidade, não pode ser analisada fora do comportamento e da aprendizagem, e este, para além de ser uma relação inteligível entre estímulos e respostas, é antes do mais, uma seqüência de ações, ou seja, uma seqüência espaço-temporal intencional.
PSICOMOTRICIDADE COMO CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
A psicomotricidade como ciência da Educação, trabalha o movimento ao mesmo tempo em que põem em jogo as funções intelectuais. A ciência da motricidade humana teve sua pré-história na Educação Física, mas esta por si não se fundamenta como ciência, não se funda como teoria ou conceito. Assim, tal educação motora é ramo pedagógico da Ciência da Motricidade Humana que inclui a psicomotricidade, a dança, a recreação e reabilitação.
As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal não são mais que manifestações motoras. Durante toda primeira infância até os 3 anos a inteligência é a função a qual é imediata do desenvolvimento neuromuscular. Mais tarde a inteligência e a motricidade se tornam independentes rompendo sua simbiose que só reaparecem nos casos de retardamento mental.
A criança ao nascer é um ser indiferenciado e difuso, não consciente de si e de seu corpo, à medida que começa a se locomover, engatinhar, subir, descer escadas, entrar em contato com os outros, passa a tomar consciência de seu corpo e suas partes nas interligações. A partir desse momento percebe que é um individual independente da pessoa e cria um tipo de complicação vivida ao nível do corpo.
Pelasistematização do estudo do movimento procura-se a compreensão do homem e a vinculação entre a ciência (seu corpo teórico e coerência e a prática profissional) e a técnica (sua operacionalidade e eficiência). Desponta da necessidade de conhecer o ser humano através da sua motricidade a partir dos vínculos de dependência da cultura e da política, estabelecendo cientificamente relações de significação e organização entre o real e o possível (Lagrange, 1977:197).
Portanto, se tratamos do real, tratamos de movimento e movimento é psicomotricidade e esta tem seus objetivos que levam o indivíduo ao desenvolvimento global.
CONHECENDO O SISTEMA PSICOMOTOR HUMANO
Conforme Vayer & Toulouse (1982), o SPMH baseia-se em estruturas simétricas do sistema nervoso, compreendendo o tronco cerebral, o cerebelo, o mesencéfalo e o diencéfalo, que constituí a integração e a organização psicomotora da tonicidade, da equilibração e parte da lateralização e também de estruturas assimétricas compreendendo os dois hemisférios cerebrais, que asseguram a organização psicomotora da noção do corpo, da estruturação espaço-temporal e da praxia global e fina, exclusivas de espécie humana devido à sua complexidade organizativa e sistemática.
A dinâmica sistemática do SPMH requer a participação dinâmica e concatenada das três unidades funcionais do cérebro, a saber: integração, elaboração e expressão do movimento voluntário.
A primeira, compreende as funções psicológicas vitais da integração e da atenção responsável pelos fatores psicomotores da tonicidade e da equilibração.
A segunda, compreende as funções psicológicas de análise, síntese e armazenamento, responsáveis pela noção do corpo e da estruturação espaço-temporal.
E a terceira unidade, compreende a planificação, programação e regulação responsáveis pela praxia global e da praxia fina (Fonseca, 1985).
As três unidades em permanente integração formam uma constelação de trabalho que processa a motricidade, organizando-a antecipadamente antes que se constitua em produto final. Tal constelação de trabalho, verdadeiro sistema harmonioso e autogeneralizado, composto de subsistemas espalhados pelo todo cerebral, preside à organização psicomotora humana, como conjunto de componentes ordenados e integrados.
Le Boulch (1983) esclarece que a educação psicomotora é formadora de uma base indispensável a toda criança, pois objetiva assegurar o desenvolvimento funcional.
O SPMH é um todo único, composto de vários subsistemas ou fatores psicomotores, trata-se de um todo integrado. A noção de integração psicomotora é crucial ao SPMH. Os fatores psicomotores se inter-relacionam e quer em termos de maturação e organização neurológica, quer em termos de planificação motora. Há uma combinação mútua entre a Tonicidade e a Equilibração para assegurar o controle postural, assim como a Lateralização, a Noção de Corpo e a Estrutura Espaço-Temporal se inter-relacionam para elaborar qualquer tipo de Praxias. Por isso, que qualquer disfunção num fator psicomotor produz mudanças em todo o SPMH. Por este e demais fatores é que devemos atribuir cuidados ao desenvolvimento psicomotor humano desde muito cedo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicomotricidade não é exclusiva de um novo método, ou escola, ou corrente de pensamento, ou técnica, ela visa fins educativos pelo emprego do movimento humano, já que o movimento é sempre a expressão de uma existência. A preocupação aqui foi conferir a cada movimento executado pela criança uma virtualidade cognitiva e prática A idéia de psicomotricidade, aqui demonstrada, é justificar o movimento com realização intencional, com atividade da totalidade, como expressão de uma personalidade e como um modo de relação particular com o mundo dos objetos e das pessoas.
Sem dúvida uma criança que não conhece a si mesmo e que não descobriu o mundo que a cerca não conseguirá também relacionar a sua educação escolar com a realidade cotidiana, e uma vez desvinculados esses fatores, desvinculada será sua concentração e capacidade de cognição em relação ao aprendizado.
Ante ao exposto, podemos ressaltar que psicomotricidade se propõe a permitir ao homem "sentir-se bem na sua pele", permitir que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de ser. Não se pretendeaquiconsiderá-lacomo uma "panacéia" não vá resolver todos os problemas encontrados em sala de aula. Ela é apenas um meio de auxiliar a criança a superar suas dificuldades de aprendizagem e prevenir possíveis inadaptações, auxiliando na alfabetização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, N. H. S. Sistema de estímulo pré-escolar: psicomotricidade e materiais didáticos. São Paulo: Cortez, 1985.
DE MEUR, A. & STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. Rio de Janeiro: Manole, 1984.
FONSECA, V. Psicomotricidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
___________Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonte, 1996.
LAGRANGE, G. Manual de psicomotricidade. Lisboa: (s.e.), 1977.
LE BOULCH, J. A educação pelo movimento.Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
MOLINARI,Ângela Maria da Paz; SENS, Solange Mari. A educação física e sua relação com a psicomotricidade.Revista PEC, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 85-93, jul. 2002-jul. 2003.
OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade, educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
VAYER, Pierre & TOULOUSE, Pierre.Linguagem corporal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
WALLON, Henry. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1995.
Roberto Giancaterino*
Prof. Dr. Roberto Giancaterino, PhD, nasceu em 1964, na cidade de Campinas, estado de São Paulo. Residente em São Bernardo do Campo - SP. É Pós-Doutorado em Educação; Doutor em Filosofia, Tecnologia Educacional e Mestre em Ciências da Educação e Valores Humanos. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional; Valores Humanos Transdisciplinares; Docência do Ensino Superior; Administração e Supervisão Educacional. Também é Bacharel e Licenciado em Filosofia, Física, Matemática e Pedagogia. Escritor, Pesquisador, Palestrante, Conferencista e Seminarista na Área Educacional.
É autor de vários trabalhos científicos reconhecidos por acadêmicos, entre eles: O best-seller "Escola, Professor, Aluno - Os Participantes do Processo Educacional" editado pela editora Madras que já é sucesso mundial. Iniciou-se no magistério em 1984 na disciplina de Matemática, posteriormente, ao final da mesma década já lecionava também na disciplina de Física. Atualmente atua como professor universitário em cursos de pós-graduação em disciplinas pedagógicas, e, na rede pública estadual leciona Matemática e Física. Em seu caminhar pela educação, Giancaterino idealiza com uma educação de qualidade e completa para todos, principalmente aos menos favorecidos e que associe todas as dimensões do sujeito como ser humano.
Algumas frases marcante de sua autoria:
"Enquanto houver guerras entres os homens, a paz será uma espécie em extinção".
"O trabalho enobrece o homem quando ele é digno do seu suor".
"Um país se constrói com bons homens e bons livros".
"Existe só uma maneira de superar os obstáculos, ultrapassá-los".
"O trabalho de um homem perpetua quando atravessa os tempos".
"Às vezes, as coisas mais reais do mundo são aquelas que não podemos ver".
"Ceder, nem sempre é sinônimo de derrota, é ser mediador do bom senso para o momento".
"O espírito de luz é aquele que transforma as coisas ruins em virtudes".
"Um dos maiores atos de covardia do ser humano, não é errar, mas sim, não assumir seu próprio
erro".
Contato: prof.giancaterino@terra.com.br / giancaterino@terra.com.br
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Práticas De Leitura Na Educação Infantil

LEITURA - LEITOR - PRÉ LEITOR
Leitura - Leitor
Cada um lê a partir do que seus pés pisam e seus olhos vêm.
(Leonardo Boff).
Neste primeiro capítulo apresentaremos o conceito de leitura e do ato de ler, a partir de alguns estudiosos sobre o assunto como Tfouni (1995), Barbosa (1994), Coelho (2000), Martins (1990), Jolibert (1994), Freire (1982), dentre outros. Nesta perspectiva discutiremos sobre leitura, leitor e pré-leitor, foco de interesse específico deste trabalho.
Mas o que seria leitura? Para Martins (1990), a leitura é uma experiência pessoal, a qual não depende somente da decodificação de símbolos gráficos, mas de todo o contexto ligado à história de vida de cada indivíduo, para que este possa relacionar seus conceitos prévios com o conteúdo do texto, e desta forma construir o sentido.
Na sociedade letrada em que vivemos, a leitura é parte integrante do indivíduo, é também um dos meios de comunicação. Através dela pode-se buscar autonomia, criticidade e acesso ao conhecimento. "Quando lemos, estamos refletindo, pensando, estamos contra ou a favor de algo, realizamos comentários, expomos e trocamos nossas opiniões, nos posicionamos e exercemos nossa cidadania". (SILVA, JOVER E GUIMARÃES,1998 p.10).
O sujeito que não tem oportunidade de aprender a ler, certamente será excluído dessa sociedade, ou melhor, não terá a mesma participação que aqueles que têm essa oportunidade. Segundo Tfouni: "A inserção em uma sociedade letrada não garante formas iguais de participação. O acesso ao conhecimento também não está livremente à disposição de todos". (TFOUNI, 1995, p. 97).
Sem o domínio da leitura fica mais difícil o indivíduo se tornar um cidadão ativo e autônomo dentro da própria sociedade em que vive. Barbosa (1994) discute que a escrita se tornou um obstáculo para que o indivíduo obtenha uma efetiva participação na sociedade, saber ler, é uma utilidade do cotidiano.
Observemos com isto, que não basta a inserção de pessoas na sociedade letrada para se obter uma efetiva participação sobre a mesma e para ter acesso ao conhecimento, ou seja, isto se torna mais fácil aos que têm oportunidade de ler e fazer uso da leitura.
Neste sentido, a leitura é uma condição básica para que o indivíduo compreenda o mundo em que vive, as pessoas e as coisas que o rodeiam. (COELHO, 2000).
Antigamente a leitura era vista apenas como um ato de decodificar os sinais, portanto, leitor era somente o alfabetizado. Nos dias atuais em que vivemos, essa concepção segue por uma outra vertente, isto é, o leitor não é mais somente aquele indivíduo alfabetizado. Barbosa vem nos chamar a atenção para isso quando diz: "Mas o mundo mudou, desfazendo aquelas identificações: ler não é mais decodificar e o leitor não é mais o alfabetizado".(BARBOSA, 1994, p. 88).
Contudo, a leitura está envolvida em aspectos que vão além da letra símbolo decifrada, ou seja, está relacionada no sentido dado ao objeto lido, ao leitor que se torna sujeito de sua própria leitura, à realidade, ao imaginário, à fantasia.
A leitura realmente passa a ter sentido quando lemos a realidade, a partir de nossos interesses e necessidades, para nos transformar e transformar o mundo. Para Jolibert (1994), esses "escritos reais" de que estamos falando, pode ser o nome de uma rua, um livro, um cartaz, uma embalagem, um jornal, um planfeto, entre outros objetos de leitura.
Podemos observar como mencionado, que o ato de ler não se refere apenas a textos escritos, mas também a outras formas de leitura, como por exemplo, de uma música, uma peça teatral, uma obra de arte etc. E mesmo os textos escritos, a pura decodificação das palavras não é sinônimo de que está ocorrendo uma leitura efetiva, pois como já vimos, ler implica atribuir sentido ao texto, fazer relações com o contexto, compreender o mundo que nos cerca. Geraldi complementa reflexões importantesacerca disso:
Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. (GERALDI. Apud. LAJOLO, 1982ab, p.50).
Ao ler um texto, é importante que o leitor o compreenda e faça a relação com seu contexto. Desta forma, o ato de ler se torna um processo de interlocução entre leitor/autor com mediação do texto (GERALDI).
Segundo Freire (1982, p. 12) "A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto".
A prática de leitura efetiva consiste nesta relação do texto com o contexto, em significados.
O RCNEI (1998) também nos mostra que a leitura não é a pura decifração das palavras, como já citado, mas é um processo em que o leitor constrói o significado do que está lendo.
É importante ressaltar que também podemos considerar a leitura como algo mágico, pois ela nos faz viajar em nossa imaginação. Segundo Silva, Jover e Guimarães "Ler é uma grande viagem, uma aventura do espírito, algo que nos faz ir além". (SILVA, JOVER e GUIMARÃES, 1998, p. 10)
Levando em consideração que ler é dar sentido ao texto e estabelecer relações dele com o contexto, nos atentaremos para um fator importante, o conhecimento prévio do leitor.
Em palestra sobre "o que é necessário para formar bons leitores na escola", Nóbrega (2006) afirma que cada leitor reconstrói para si o texto que lê, cada leitor traduz o texto ao seu tempo. Para que o leitor atribua significado à um texto, é necessário que faça uso daquilo que trás consigo como conhecimento prévio do que está lendo através de relações estabelecidas com o mesmo. Desta forma, cada leitor construirá um significado próprio a um determinado texto.
Neste sentido, Barbosa também enfatiza:
Um leitor, ao entrar em contato com o texto, constrói uma hipótese sobre o que vai encontrar na leitura desta. Um leitor não é completamente ignorante sobre o que irá ler. A leitura pressupõe a elaboração de um saber prévio, que fornece dados para o leitor levantar hipóteses sobre o que vai ler. (BARBOSA, 1994, p.117).
Como vimos, para atribuir sentido a um texto o leitor faz uso daquilo que já conhece. Levando isto em consideração, ler não pode ser um ato mecanicista o qual não permita que o sujeito estabeleça relações e atribua sua própria interpretação, construa seu próprio sentido. Daí a importância fundamental no âmbito educacional de se considerar e partir sempre do que o aluno já sabe.
De acordo com Orlandi:
Assim, os testes e provas servem também a mostrar que não existe o leitor que se visa, que este será moldado pela instituição em que se inserir. É o que acontece na escola quando se ignora que o leitor real tem uma história e um posicionamento frente a outras leituras. (ORLANDI, 1998, p.33).
Contudo, um leitor, pode ser condicionado ou interativo, ou seja, o primeiro lêmecanicamente estabelecendo relação entre a grafia e ao som da mesma. Já o segundo é aquele, que como já mencionamos se intera com o texto, fazendo relações com o contexto e atribuindo-lhe significados. (ORLANDI, 1998).
Barbosa diz: "Diante de um novo objeto, a criança se mobiliza, estabelecendo uma relação entre o seu acervo de conhecimentos - a estrutura cognitiva - e o novo estímulo a ser aprendido". (BARBOSA, 1994, p.71)
Ora, com esses princípios de leitura, podemos então entender o texto não como obtendo um só sentido para todos aqueles que o lêm, isto é, ele irá produzir vários significados a partir do contexto e a relação com o seu leitor. Isso significa, que um determinado texto poderá ter sentido diferente de um leitor para outro, pois cada indivíduo tem experiências, histórias de vida e conhecimentos prévios diferentes. Segundo Orlandi, "Não analisamos o sentido do texto, mas como o texto produz sentidos".(ORLANDI, 1998, p.11).
No entanto, o estágio de leitura em que o leitor se encontra, tem muita influência em seus conhecimentos prévios e no sentido que construirá no texto. Quanto a esses estágios de leitura, Coelho (2000) nos cita cinco, são eles:
üPré-leitor, o qual abrange duas fases:
- Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos)
- Segunda infância (a partir dos 2/3 anos);
üO leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos);
üO leitor - em - processo (a partir dos 8/9 anos);
üO leitor fluente (a partir dos 10/11 anos);
üO leitor crítico (a partir dos 12/13 anos).
Pré-Leitor
Falaremos agora sobre uma categoria de leitor a qual citamos a cima. Apresentaremos de maneira especial, o pré leitor.
Martins (1990), nos traz uma reflexão importante acerca desta categoria, a autora diz que quando aprendemos a ler, significa que estamos aprendendo também a ler e dar significado ao mundo e a nós em quando sujeitos individuais, e isso, fazemos antes de sermos ensinados por alguém.
Para situarmos o pré-leitor, falaremos brevemente sobre seu histórico, isto é, como foi reconhecida e valorizada essa categoria.
A partir do século XVIII, segundo Teberosky e Colomer (2003), foi instituída a idéia de uma literatura específica para as crianças, pois neste período as mesmas começaram a ser valorizadas e consideradas em um estágio diferente dos adultos. Essa idéia da infância com interesses e necessidades próprias, levou ainda no século XVIII, a criação de livros específicos à esse segmento de faixa etária
Coelho (2000), complementadizendo que no século XX, a psicologia experimental revela que o desenvolvimento tem diferentes estágios desde a infância até adolescência, e que cada estágio corresponde a uma idade. Desta forma, a noção de "criança" muda, valorizando então a literatura infantil como um processo significativo no desenvolvimento das mentes infantis.
Como vimos anteriormente, a leitura não precede somente da decodificação de símbolos, pois existe outras formas de leitura que não esta. Levando isso em consideração, antes mesmo que as crianças aprendam a decodificação dos códigos, é possível a iniciação das mesma às práticas de leitura, desta forma, quando aprender as letras, já terão contato com o verdadeiro sentido de ler, ou seja, poderão ir além das palavras escritas. Sobre isso Jolibert (1994, p. 15) nos chama a atenção: "É lendo de verdade, desde o início, que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler".
"'Ler de verdade" , como diz o autor citado, significa saber dar sentido ao texto, imaginá-lo e relacioná-lo com situações já vividas, ou seja, ir além das palavras escritas.
Martins (1990) também destaca algo relevante ao que estamos discutindo, para a autora existe uma pré-existência do leitor á descoberta dos significados das palavras, ou seja, quando começamos a organizar nossos conhecimentos adquiridos a partir de diversas situações que se configuram na realidade, quando começamos um processo de estabelecimento de relações entre as experiências e a tentativa de resolver problemas que nos são apresentados, estamos procedendo leituras que nos dão habilidades básicas de ler tudo e qualquer coisa.
A criança, ou seja, o pré-leitor, poderá iniciar a leitura a partir de seu contexto, pois é através dele, que a aprendizagem da leitura se torna mais efetiva. Segundo Martins (1990, p. 15):"Certamente aprendemos a ler a partir do nosso contexto pessoal. E temos que valorizá-lo para ir além dele."
O pré-leitor, freqüentador da Educação Infantil, segundo coelho (2000), está na fase de reconhecer o mundo que a cerca através da afetividade e do tato. Sendo assim, diante de qualquer objeto o primeiro impulso da criança é "pegar". Nesta fase, a criança também começa a nomear tudo o que está à sua volta.
Coelho (2000), também diz que na pré-escola e em casa, é fundamental a presença do adulto para a orientação da brincadeira com o livro. A criança começa a descobrir o mundo concreto e o mundo da linguagem através do livro.
Observemos através do que acabamos de apresentar, que a leitura infantil, é muito importante para o desenvolvimento nesta faixa etária. Porém, como já vimos há outras formas de leitura além da literária, as quais também têm a mesma importância, como por exemplo, a leitura de um objeto de uma imagem, de uma música dentre outras que contribuem para formação do pré-leitor.
Fonte: Webartigos.com Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para reprodução. 1

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Reflexões Sobre Alfabetização (Emilia Ferreiro)

O livro aborda o método da alfabetização a partir da psicogênese da língua oral e escrita, apresenta a visão da autora argentina Emilia Ferreiro apresentando suas pesquisas e demonstrando resultados significativos sobre os níveis de padrões evolutivos ( pré - silábico, silábico, silábico - alfabético e alfabético). Num primeiro momento a autora apresenta a representação da linguagem no processo de alfabetização deixando uma reflexão sobre os saberes que o aluno traz para a escola e como esses devem ser trabalhados pelos professores. Ressalta as concepções das crianças a respeito do sistema de escrita apresentando ilustrações sobre diferenciações interfigurais com crianças de 4 a 6 anos, a seguir aborda as concepções sobre a língua subjacente a pratica docente apresentando discussões sobre as estratégias e o uso dos métodos no ensino indo do sintético ao analítico. A seguir discute a compreensão do sistema de escrita, como construções originais da criança e informação especifica dos adultos, apresenta construções originais das crianças, e processos de aquisição da língua escrita no contexto escolar considerando a aprendizagem da leitura e escrita como um processo de aprendizagem escolar que se torna difícil reconhecermos que o desenvolvimento da leitura e da escrita começa muito antes da escolarização. Emilia Ferreiro é construtivista e baseia seus estudos nas idéias de Piaget seu mestre e inspiração, é um importante subsidio para educadores principalmente envolvidos com o processo de leitura e escrita (alfabetização), a mesma apresenta as fases da evolução da criança para a chegada na leitura ou no nível alfabético, no Brasil e em vários paises suas pesquisas vem sendo usadas para melhorar a qualidade do ensino e principalmente na tentativa de incluir as classes menos favorecidas nesse processo de alfabetização. O livro então constitui-se num manual pratico e prazeroso de conhecimento e reflexões sobre a questão da alfabetização, tema importantíssimo principalmente para educadores e estudantes de educação.

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